Outros ficcionistas do Segundo Tempo Modernista 

Cyro dos anjos (Montes Claros, MG, 1906-Rio de Janeiro, RJ, 1994) 


Cyro dos Anjos é o autor de romances de educação sentimental, como Amanuense Belmiro, Abdias e Montanha, onde nos dois primeiros romances, ele narra às ressonâncias da vida na alma de homens, sempre voltado para si próprio, homens que flutuam entre o desejo e a inércia, entre projetos arrojados e a melancolia da impotência.

Um dos romances de Cyro dos Anjos é O Amanuense Belmiro, que é um romance narrado em primeira pessoa, pela personagem principal Belmiro Borba, que é um tímido solteirão sonhador, com uma capacidade de analisar a si mesmo e aos outros. Belmiro Borba mora em Belo Horizonte com suas irmãs, “as velhas”. Certo dia, em uma noite de natal, ele resolve começar a registrar o seu cotidiano em um diário, evocando assim a sua infância…

Cornélio Pena (Petrópolis, RJ, 1896- Rio de Janeiro, RJ, 1958)


Cornélio Pena foi o auto de Fronteira, Repouso, A Menina Morta e Dois Romances de Nico Horta. 

Nos seus romances, não se percebe nada claramente, pois as pessoas pisam muito e seus remorsos, deixam se levar pela angústia, ou seja, no drama interior, na tortura da alma, indo para o abismo da loucura. Mas também em seus romances o autor torna a investigação psicológica da natureza humana dos personagens mais densa, porém livre de qualquer esquema que seja reconhecível, narrando apenas o caos e o mistério, cobrindo o mundo que elas vivem com uma atmosfera quase insondável. 

A Menina Morta


O argumento desse romance se esboça através de situações e detalhes, que compõem o ambiente e com ele submergem numa atmosfera que delimita o seu próprio mundo. De repente, todos os seus componentes materiais, humanos e temporais avultam nitidamente em torno de um símbolo de poder unificador e punitivo, a "menina morta". Evocada em sua curta existência, ela deixa entrever a sua missão conciliadora, também inspiradora do perdão e da bondade. Morta, abandona os vivos que se aprisionam cada vez mais nas cadeias do orgulho, do grande latifúndio escravocrata e monocultor, todos surdos aos gemidos da humildade passiva do escravo seviciado e aterrorizado. 

A paisagem é a de uma grande fazenda de café no Vale do Paraíba, com seu imenso solar, inúmeros agregados e trezentos escravos. Seus senhores sofrem um drama íntimo, contido pelo orgulho e pelo amor-próprio, que intimidam e impedem qualquer possibilidade de alusão, de quem quer que seja ao que possa ter acontecido. Ao mesmo tempo pressente-se a iminência da revolução social e econômica, com a extinção do trabalho servil. A criança, que seria a esperança de uma reconciliação humana geral naquela paisagem de riqueza e poderio às vésperas de se extinguir, se converte naquele símbolo da "menina morta". É a sombra punitiva que paira sobre os desumanizados. Tanto que, como num misterioso processo de metempsicose, ela é confundida com a irmã que sobrevive e é feita herdeira da fazenda. É quando esse vasto latifúndio de repente se desola, quase se intemporaliza, para envolver a sobrevivente numa imensa sombra, justamente com sua mãe, física e mentalmente debilitada. 

O romance parece então dividir-se em duas partes: a primeira, em que perdura a lembrança da menina morta, coexistindo com o seu retrato a óleo na parede, enquanto ela se faz atuante como verdadeira força catalítica; a segunda preenchida pelo retorno da irmã, coincidindo com a ausência dos pais, até ao entorpecimento sombrio de todo aquele imenso e fervilhante domínio. 

Entre outros ficcionistas do Segundo Tempo Modernista, temos:
• Marques Rebelo (Rio de Janeiro, 1907 – 1973)
• Lúcio Cardoso (Curvelo, MG, 1913 – Rio de Janeiro, RJ, 1968)
• José Geraldo Vieira (Rio de Janeiro, 1897 – São Paulo, 1977)
• Dyonélio Machado (Quaraí, RS, 1895 – Porto Alegre, RS, 1987)