A organização do espaço na superfície do globo e sua função na Evolução Histórica
Por Redação
Examinemos um globo terrestre. Por maior que seja, nós o vemos apenas como uma miniatura e uma representação imperfeita do modelado externo de nosso planeta.
O que no surpreende ao observarmos um globo terrestre é o caráter aleatório que preside a distribuição das extensões de água e de terra. Não há espaços matemáticos, nenhuma construção linear ou geométrica, nenhuma seqüência de linhas retas, nem de pontos regulares; somente a rede de coordenadas estabelecida a partir da abôboda celeste permite medir artificialmente uma realidade inalcançável: os próprios pólos não passam de pontos matemáticos definidos em função da rotação da Terra e cuja realidade ainda nos escapa.
Sim, este Todo terrestre assimétrico, ao não obedecer aparentemente a nenhuma regra e ser difícil de captar como um conjunto, deixa-nos obedecer aparentemente a nenhuma regra e ser difícil de captar como um conjunto, deixa-nos uma impressão estranha e nos vemos obrigados a utilizar diversos métodos de classificação para apagar a idéia de caos que dele resulta. Por isso, até agora o interesse foi maior em relação às suas partes constitutivas do que em relação à suas aparência global e, então, os compêndios geográficos têm-se dedicado fundamentalmente a descrever essas partes. Portanto, tendo-se contentado até agora em descrever e classificar sumariamente as diferentes partes do Todo, a geografia não pôde ocupar-se das relações e das leis de caráter geral, que são as únicas capazes de transformá-la em uma ciência e de dar-lhe sua unidade.
Embora a Terra, como planeta, seja muito diferente das representações em escala reduzida que dela conhecemos, e que só nos fornecem uma idéia simbólica de seu modelado, tivemos que lançar mão dessas miniaturizações artificiais do globo terrestre para criar uma linguagem abstrata que nos permitisse falar da Terra como um todo. E foi desse modo que, inspirando-nos diretamente na realidade terrestre, pudemos elaborar a terminologia das relações espaciais.
Existe uma diferença fundamental entre as obras da natureza e as criações do homem: por mais belas, simétricas ou acabadas que estas últimas possam parecer, um exame atento revelará sua falta de coesão e sua estrutura tosca. O tecido mais fino, o relógio mais elegante, o quadro mais formoso, o brilho mais intenso do mármore ou dos metais trabalhados nos levariam, vistos no microscópio, a uma constatação semelhante. Inversamente, a impressão de assimetria e a aparência informe das obras da natureza desaparece com um exame minucioso. A lente do microscópio faz surgir em uma teia de aranha, na estrutura de uma célula vegetal, no aparelho circulatório dos animais, na estrutura cristalina molecular dos minerais, elementos e conjuntos de uma textura sempre mais delicada.
Não deveríamos encontrar esta diferença também no caso do maior corpo natural que conhecemos, isto é, nosso planeta, embora saibamos que nosso conhecimento dele é ainda e apenas superficial? … E, como conciliar esta abordagem global de nosso planeta com o que sabemos de tudo que nele vive, grupos humanos e outros seres vivos; com o que conhecemos de aventura do homem nesse planeta; e como conseguir esta conciliação se concebemos o globo como o lugar e a morada que oferecem ao homem, durante o tempo de sua passagem na Terra, a base necessária ao seu desenvolvimento?
Tudo nos leva a não buscar no presente a imagem da eternidade, a não confundir aparência e essência, as impressões que obtemos de uma coisa ou de um fenômeno e a realidade dessa coisa ou desse fenômeno, a não interpretar as leis naturais estabelecidas como construções lógicas do nosso intelecto, mas, antes, a considerá-las como uma feliz descoberta de um mundo de fenômenos que nos envolve e que, estão, não tínhamos conseguido elucidar. A gênese dessas multidões de estrelas que constituem as nebulosas, o estudo da formação dos ventos estão entre as coisas que têm ensinado a não rotular de incoerente a aparente deserdem do mundo que no rodeia.
Com efeito, quanto mais avançamos no conhecimento de distribuição espacial (dos fenômenos) na superfície terrestre, e quanto mais nos interessamos – para além de sua deserdem aparente – pela relação interna de suas partes, mais simetria e harmonia descobrimos nela, e uma medida cada vez maior as ciências naturais e a história podem ajudar-nos a compreender a evolução das relações espaciais. De fato, graças à meteorologia e à física, foi possível a realização, até agora, de grandes progressos em matéria de conhecimento da ordem espacial. Mas, resta ainda muito para se fazer e esperamos consegui-lo por meio da intervenção, nesse estudo, de nossos conhecimentos relacionados com a história dos homens e dos povos e, também, da distribuição geográfica dos elementos dos três reinos da natureza.