4. O Descritivismo na narração
Na narração podem ocorrer algumas passagens descritivas que ilustram os personagens, objetos e situações, e os realces dão para a narração um ar de humor, lirismo ou dramaticidade no descritivismo oportuno e manejado com estilo.
Observe no texto abaixo a intervenção descritiva na composição das personagens e situações:
Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Chegou em casa, na Rua das Marrecas, soltando marimbondos contra o carnaval. E enquanto tirava o colarinho de goma:
– País desgraçado! Tudo é feriado! Um funcionário de responsabilidade, com encargo de chefe de seção na pode trabalhar. Ninguém despacha coisa alguma. É só pulo de macaco e fantasia de baiana. Até o Desembargador Jupiaçu Feijó vai sair de Marquês de Pomba. É o fim do mundo, Dona Escolástica!
E colocando os colarinhos na cadeira:
– Não agüento mais. Vou para os capuchinhos fazer meu retiro espiritual.
Já falei com Dom Alvorado.
Dona Escolástica, avassaladora senhora de prendas domésticas, fina como um machucador de cozinha, bateu palmas. E nas palmas dos cem quilos de Dona Escolástica embarcou Torquato Saquarema para a paz dos capuchinhos. Na porta de casa, orgulhosa do marido, a terrível senhora deu a última mão de tinta no seu consentimento:
– Vai, Saquarema. Vai com Deus, meu filho.
Foi. Mas deu azar. O Bloco Vai Que Eu Fico Em Casa, da moça do estandarte ao último tamborim, entrou numa grade de não caber na delegacia, pelo que transbordou pelas páginas dos jornais. E lá veio, em quatro colunas, encadernado de baiana, o marido de Dona Escolástica. Na quarta-feira, ao deixar a prisão. Torquato Saquarema tomou uma providência enérgica. Pediu asilo na Embaixada do Peru.
(José Cândido de Carvalho).