Movimento de caráter fortemente religioso, a Reforma Protestante marca o momento em que há a mudança da Era Medieval para a Idade Moderna. A seguir, apresentaremos alguns aspectos importantes sobre esse processo, que resultou em grandes modificações para o mundo ocidental.
O crescimento da classe burguesa fazia com que o contexto econômico fosse se alterando. Embora gozassem de riquezas, os comerciantes das cidades – burgo= cidade, daí vem o termo ‘burguesia’ – eram rechaçados pelas instituições religiosas católicas.
Tal atitude da igreja era justificada, segundo os clérigos, pela prática usual, por parte dos comerciantes, da usura – que eram os empréstimos pessoais, mediante pagamento de juros – que feriria o controle de Deus sobre o tempo, bem como a valorização burguesa de riquezas mundanas, considerada pecado.
Todo o processo de crise econômica que resultou no fim da Idade Média revelou, por outro lado, que os religiosos católicos estavam muito mais próximos ao acúmulo de bens materiais – sob alegação de que tudo o que era dado a Igreja era de propriedade de Deus – do que de ajudar a situação da população de camponeses, cuja maioria era formada por pessoas miseráveis. Tudo isso fez com que, em um dado momento, a população – incluindo a burguesia, que se indignava com a rejeição sofrida – questionasse os dogmas impostos pela religião católica; haja vista que nem os padres, bispos, ou cardeais respeitavam tais normas e nem os votos religiosos – e não eram punidos, por isso.
Já no século XII, portanto, surgem os movimentos pioneiros, que vinham para questionar crenças e práticas do catolicismo, de modo geral. Os cátaros, de origem francesa, têm grande destaque nesse primeiro movimento de ruptura. Isso foi favorecido pelo próprio cenário social, do sul da França, que abrigava grupos de origens muito diferentes, fazendo com que surgisse uma fé cristã, que era, ao mesmo tempo, separada dos ditames católicos e portadora de leitura própria da Bíblia. Nesse sentido, os cátaros eram muito mais “religiosos” que os clérigos católicos, uma vez que aqueles levavam de modo severo todas as normas propostas no livro sagrado, diferentemente das autoridades eclesiásticas.
Ao longo do século XIII, o Papa Inocêncio III deu ordens para que fosse estabelecida uma cruzada até a região dos cátaros, para eliminar aquela ‘heresia’. Assim, por duas décadas, entre 1209 e 1229, houve uma série de conflitos, que terminaram acabando totalmente com os cátaros.
A partir daí, a Igreja Católica tenta conter os focos de dissidência por meio de grande violência, criando o Tribunal da Santa Inquisição, que tinha poder para capturar qualquer pessoa que fosse suspeita de bruxaria ou heresia – ou que estivesem representando ameaça a seu poder consolidado, o que correspondia à mesma ideia.
Intelectuais importantes dos séculos XIV e XV começaram, por sua vez, a apontar que todas as crenças tradicionais da Igreja não se mostravam tão eficazes e dominantes. John Wycliffe, da Inglaterra, escreveu uma série de ensaios que deninciavam a corrupção da Igreja e, além disso, expunha a importância da fé, como forma de elevação espiritual. Certo momento, tal perspectiva chegou ao conhecimento de Martinho Lutero, começando a modificar sua forma de pensar, no século XVI.
John Huss foi um padre engajado em traduzir a Bíblia para diversos idiomas e também por denunciar o comportamento dos religiosos. Foi morto na fogueira, o que resultou em um movimento de reação popular – dominado por camponeses sem recursos -, denominado Hussismo.
A Renascença, com suas experiências e estudos, começou a colocar em xeque os ditames católicos, revelando que os fatos eram totalmente diferentes da versão eclesiástica – o Empirismo de Francis Bacon, o Heliocentrismo de Copernico, a física gravitacional de Newton, entre outros. Assim, a Igreja via o seu principal poder, enfraquecer, ou seja, o de ser o único local aonde se poderia recorrer para conhecer Deus e o mundo todo. Isso agora se revelava falso; as próprias pessoas poderiam começar a buscar outros modos de construir sua fé e de ter acesso ao conhecimento.
Todo esse processo vai ficando mais intenso, com um número cada vez maior de grupos que propõem mudanças na relação com a religião, até que o movimento de reforma protestante ganhou corpo, com uma série de novas religiões, como o Luteranismo, o Calvinismo, o Anglicanismo, entre outras.