O mundo pós-revolução industrial encontrou-se dividido em dois setores opostos, que a boa intenção dos utopistas não conseguiu jamais aproximar: de um lado o extremo da opulência, fundado na mais requintada tecnologia; de outro a pobreza absoluta, decorrente de atividades econômicas primitivas, insuficientes para suprir mesmo as necessidades básicas da população.
Subdesenvolvimento econômico é o estado crônico de inferioridade relativa em que se encontram alguns países, se comparados ao modelo das nações industrializadas. A América Latina, a África e a Ásia são continentes integrados principalmente por países subdesenvolvidos. O quadro econômico-social que caracteriza o subdesenvolvimento inclui, principalmente, produção centrada em poucos produtos primários destinados à exportação, alta concentração da riqueza e da propriedade rural, baixa renda per capita, altas taxas de desemprego e subemprego, baixo nível de consumo e altos índices de mortalidade e natalidade.
Um sistema internacional de relações econômicas, financeiras, políticas e culturais perpetua e reproduz as diferenças entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os países de passado colonial recente e os que iniciaram com atraso o processo de industrialização acabaram relegados à periferia do capitalismo, conformando o que se convencionou chamar terceiro mundo. Estabeleceu-se assim entre ricos e pobres uma nova relação de dependência, derivada diretamente do vínculo entre metrópoles e colônias existente no passado.
O termo "subdesenvolvimento" tornou-se corrente depois da segunda guerra mundial nas comissões para assuntos econômicos da Organização das Nações Unidas. Muitos cientistas sociais, no entanto, fazem objeção a seu uso, que encerraria o mascaramento ideológico de uma condição não-transitória de atraso e dependência. Ainda menos adequada seria, desse ponto de vista, a expressão "em vias de desenvolvimento", que encerra a falsa idéia de um processo de industrialização emergente. Mais correto seria falar em desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo, em que a sustentação e aceleração do progresso de alguns países depende da manutenção de maiores ou menores níveis de atraso em outros.
Economias agro-exportadoras. O traço mais peculiar à economia subdesenvolvida é a predominância do setor primário, isto é, a dependência de um ou de uns poucos produtos de exportação de origem agropecuária ou extrativa. Os preços pagos pelos produtos agrícolas e pelas matérias-primas em geral no mercado internacional são proporcionalmente inferiores aos preços dos produtos industriais. Essa desproporção gera um desequilíbrio entre importações e exportações dos países agro-exportadores: suas exportações tornam-se insuficientes para adquirir os produtos industrializados de que necessitam, inclusive maquinaria para estabelecer sua própria indústria. As nações mais poderosas, de acordo com seus interesses, têm condições de pressionar para baixo os preços internacionais dos produtos primários que compram, jogando com estoques e outros artifícios, e assim impedem as economias agro-exportadoras de acumular excedentes que seriam eventualmente destinados à industrialização.
Para importar produtos manufaturados, serviços especializados ou tecnologia, os países subdesenvolvidos recorrem ao crédito oferecido por bancos e demais instituições financeiras. Dessa forma, o endividamento tornou-se uma das principais características da dependência econômica. O crescimento desmedido da dívida externa agrava o subdesenvolvimento à medida que cada vez maiores recursos são destinados ao pagamento dos compromissos internacionais e desviados, portanto, do investimento produtivo.
Tecnologia e obsolescência. O esforço dos países subdesenvolvidos para a industrialização se vê seriamente limitado por problemas decorrentes do atraso tecnológico. As potências industriais investem somas gigantescas em tecnologia, o que resulta em constante aperfeiçoamento e barateamento de seus produtos. Podem fazê-lo porque dispõem de capitais para investir e de vastos mercados que permitem recuperar com lucros os investimentos. Os produtos industriais dos países mais pobres são, dessa forma, relegados à obsolescência e alijados do mercado, mesmo internamente, se não houver medidas políticas de proteção ao produto nacional.
A importação de tecnologia para diversificação da produção da periferia, que poderia apresentar-se como solução, não raro acarreta conseqüências sociais graves: além do endividamento, a substituição de mão-de-obra por máquinas aumenta o contingente de desempregados, que o setor de serviços não tem condições de absorver, como costuma ocorrer nas metrópoles.
Estrutura interna do país subdesenvolvido. É manifesta, em geral, a solidariedade das classes economicamente dominantes do país subdesenvolvido com os centros econômicos externos. Mediante a aliança com as elites de cada país pobre, a grande indústria internacional se beneficia de mão-de-obra barata e de mercados para seus produtos, disputados às indústrias autóctones.
O modelo de propriedade agrária predominante é o latifúndio improdutivo. Grande parte da população rural desempenha atividades econômicas de subsistência e não participa do mercado. O êxodo rural em busca de melhores condições de trabalho provoca o crescimento desordenado das cidades, que se tornam abarrotadas de mão-de-obra não-qualificada. Os mercados são exíguos e de baixo poder aquisitivo, voltados para produtos de primeira necessidade.
O nível de industrialização e o padrão de vida da população não são os mesmos em todos os países do terceiro mundo. As diferenças regionais dentro de um mesmo país também podem ser agudas: o Brasil, por exemplo, possui uma pujante indústria automobilística e mercado para bens de consumo duráveis. Calcula-se, no entanto, em apenas 15% a parcela da população que consome produtos industrializados.