Às vésperas de sediar uma Copa do Mundo, o Brasil viveu em 2013, durante a Copa das Confederações, um momento único em sua história recente: uma enxurrada de manifestações surgiu pelas ruas das principais capitais do país, e também em cidades menores, demonstrando que o nível de insatisfação com os desmandos e com a inépcia dos políticos atingira limites absurdamente altos.
Pois justamente quando vive um de seus momentos mais importantes dentro de sua recente trajetória democrática, ironicamente o Brasil, que é considerado por muitos como sendo o país do futebol, está para receber o maior torneio de futebol de seleções do mundo.
A ironia se dá por diversos motivos, e é evidente que alguns deles esbarram nos gastos públicos altíssimos para a construção de estádios inúteis ou que envolvem interesses escusos, em detrimento das péssimas condições de saneamento básico, de saúde, de educação, segurança e transportes.
É evidente que por estes motivos, muita gente se colocou contra a realização da Copa do Mundo por aqui. E mais evidente ainda é a legitimidade de seu posicionamento.
Porém, uma coisa é ser contra a realização de um torneio com altíssimo grau de gastos públicos em um país que mal consegue atender aos anseios mais básicos de sua população. Outra coisa bem diferente é misturar tudo isso com o gosto natural que muitos brasileiros (a sua maioria) têm pelo jogo de futebol e por todas as coisas que o envolvem.
O que tem se visto pelas ruas e principalmente pelas redes sociais (que amplificam o ódio das pessoas) é um ataque sistemático a quem se manifesta favorável ao jogo de futebol.
Se uma pessoa se diz fã de um clube e posta coisas relacionadas a ele no Facebook, ela logo é taxada de “alienada”, “idiota” ou “burra”. Vale lembrar que o futebol, além de ser o esporte mais popular do mundo, é também um esporte que ajudou muitas pessoas de classes mais baixas a conseguir ascender socialmente, ajudando familiares pelo caminho. Também ajudou a retirar muitos jovens de periferias do mundo dos malefícios das drogas e da violência.
Fora essas situações mais diretamente ligadas aos seus praticantes, o futebol também tem importância histórica na formação cultural de nações inteiras, sendo os maiores exemplos o próprio Brasil, a vizinha Argentina, a inventora Inglaterra, a amante do jogo Itália e a Alemanha.
Repare que a lista possui países de diversos extratos: países emergentes, países em crise econômica e países desenvolvidos. Isso é um detalhe importante, pois em comum, todos esses países tem o gosto pelo jogo de bola, além da importância do esporte em sua formação cultural. E o mais importante, para os críticos do jogo, que dizem ser responsável pelo atraso brasileiro, por exemplo: alemães e ingleses respiram futebol desde criancinhas, e isso não influenciou negativamente na organização de suas sólidas (especialmente a alemã) economias e de suas sólidas culturas. Esse é um recado importante para quem gosta de dizer que os fãs do futebol são alienados e não contribuem para as discussões sociais importantes! Cabe observar outros países que amam o jogo tanto ou até mais do que a gente.