O mês de novembro de 2013 foi marcado pela ressaca das revoltas de junho e o início das manifestações contra a Copa do Mundo da FIFA de 2014. Entre os temas que ganharam espaço, a educação foi um dos assuntos que mais acaloraram as mesas de debate. Na época, um artigo escrito pelo filósofo e colunista Luis Felipe Pondé, com o título “Eu Acuso” (Folha de São Paulo – 04/11/2013), sobre a doutrinação marxista nas escolas, deu toques de polêmica à discussão.
No artigo, Pondé descreve o estudante que está prestes a se formar no ensino médio como um escravo do sistema de ensino, obrigado a fingir ser marxista para passar em provas como a do ENEM. O texto de Pondé é baseado em cartas recebidas, por ele, de alunos revoltados com professores que pedem Marx como objeto de estudo.
Apesar da crítica de Pondé ter um teor cauteloso em relação à influência do professor na opinião política do aluno, ou seja, empurrar o estudante para um abismo ideológico sem qualquer senso crítico daquilo que lhe é passado como disciplina, o autor se esquece da influência dos setores privados na educação, que também podem ser tratados como doutrinadores e estão muito mais presentes no sistema pedagógico brasileiro, do que a doutrina marxista.
O início do século XXI trouxe consigo um grande desejo na modernização da forma como se educa. O motivo disso são as novas tecnologias e os anseios econômicos e comerciais envolvidos na modernização da civilização. Nesse sentido, o estado passa a ser tratado como ineficiente no planejamento da educação, daí surgem as escolas privadas, dividindo interesses de pais e educador. A crítica ao pensamento de Pondé traz essa questão à tona quando há uma discussão relacionada ao desenvolvimento das provas do processo seletivo nacional e ao mesmo tempo um apelo contra a suposta doutrinação de esquerda baseada na formulação destas provas.
O fato é que, assim como Adam Smith, o pai do liberalismo econômico, pode ser considerado um pensador clássico dentro da concepção acadêmica, Marx também pode ser tratado como um filósofo clássico sem precisar ser arma de manipulação ideológica socialista dentro do sistema de ensino brasileiro. Ambos devem ser tratados como clássicos a serem estudados, compreendidos e agregados ao conhecimento e ideologia do aluno através de seu próprio senso crítico.
Atualmente, o que aprendemos na escola é algo conhecido como teoria de quase-mercado, onde políticas públicas são integradas junto à globalização da economia.
Esse fenômeno causa um processo de competição dentro do sistema educacional, onde o mérito trará mais sucesso que aquele que não atingiu o mesmo nível de acerto. Ou seja, a influência do setor privado se agarra ao currículo pedagógico, programando aquele aluno para uma cultura neoliberal, totalmente diferente da teoria comunista de Marx. Nesse sentido vemos alunos perdendo senso crítico e poder de escolha, mais que isso, o educador perde seu poder pedagógico para o colunista ou crítico econômico, como o que aconteceu com o texto escrito por Pondé, onde um aluno teria lhe enviado críticas aos estudos marxistas pedidos pelo seu professor.
Nesse caso, a crítica por não querer estudar um filósofo mesmo usando senso crítico como forma de se repelir de qualquer ideologia que vá contra suas convicções, acabou se tornando alimento para a polêmica de críticos políticos. Nesse ponto podemos ver a influência de interesses extras educacionais no sistema pedagógico e isso merece cautela dos mais conscientes em relação à realidade paulistana.