O ENEM realmente indica o grau de qualidade do Ensino Médio?

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é, na atualidade, um dos meios mais importantes para que estudantes tenham a possibilidade de ingressar no ensino superior. Por conta de sua grande relevância, então, essa avaliação atrai imensa atenção de toda a opinião pública – bem como dos veículos de mídia – e, no momento de divulgação dos resultados, anualmente, sempre há destaque, porque são números que podem revelar elementos sobre o perfil do Ensino Médio no país. Entretanto, segundo especialistas, é um erro crasso fazer análise sobre a qualidade desse ciclo de ensino, baseando-se somente nesses dados.

Isso porque o Enem não serve como avaliação confiável sobre os conteúdos de aprendizagem, uma vez que não serve para verificar se o aprendente conseguiu assimilar o que é estabelecido como sendo o currículo oficial do Ensino Médio.

Uma questão que influencia nesse resultado pouco preciso é o fato de o próprio currículo educacional do país ser, por si mesmo, pouco definido. Para critério de comparação, muitos são os países do mundo que apresentam currículos mais claros e definidos que o brasileiro, exigindo que todo estudante que passe pelo período de Ensino Médio deva ter domínio sobre certos tópicos de matemática, geografia, história, entre outras disciplinas. Já em nosso país, isso não é muito bem estabelecido, de forma oficial, embora haja PCNs e outros tipos de iniciativas, mas ainda pouco efetivas. Como o Enem não pode medir esse tipo de elemento, acaba por não ser o melhor termômetro sobre a situação da educação média, porque não se sabe, mesmo com seus resultados, o que o aluno apreendeu, de fato.

Afinal, o Enem foi um exame concebido para servir de ferramenta de avaliação de alunos, não de instituições de ensino em geral. Caso a parte – a nota do estudante – seja tomada para definir o todo – a escola da qual faz parte – certamente, haverá distorções nessa interpretação.  Primeiramente, pelo fato de o exame não ser obrigatório, apesar de contar com grande participação – cerca de 70% – , mas ainda não é uma amostragem universal.

Assim, se intuirmos que apenas excelentes alunos fazem a prova, o resultado será “puxado para cima”, não refletindo as nuances reais, dos diferentes perfis de estudantes do país. Como parâmetro confiável para análise estatística, portanto, é descartável.

Além disso, há outros cenários, como, por exemplo, uma escola na qual apenas poucos alunos – e de ótimo nível – participem do exame. Esse resultado, para a instituição, também servirá como artificialmente elevado, pois houve baixa participação, não representando uma média. Exatamente por essa razão é que não é possível afirmar, mesmo que uma instituição esteja com média alta no Enem, que isso reflita a qualidade – ou não – do ensino oferecido.

O Enem pode servir, por exemplo, como critério de escolha para os pais matricularem os filhos em uma determinada escola, desde que não seja o único. Mesmo porque, o conteúdo oferecido é importante, claro, mas outros elementos precisam ser levados em conta, como estrutura, projeto político-pedagógico, métodos de avaliação, entre outros. Portanto, o Enem, apesar de importante, para refletir a realidade do ensino no país, ainda precisa se aperfeiçoar

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