4. Crônica narrativo-descritiva
Uma crônica narrativo-descritvia apresenta uma alternância entre os momentos narrativos e manifestos descritivos. Nestes textos predominam sucessões de ações sobre as inserções descritivas.
Veja na crônica abaixo, a presença destas características:
Brinquedos
Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar se incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A eles não interessava nada, peças de pano, cetins, cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e os palhaços, fechados, sufocados, em suas grandes caixas.
Brinquedos que jamais teriam possuído, sonho apenas de infância, amor platônico.
O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um famoso galpão de cinzas.
Felizmente, ninguém tinha morrido – diziam ao redor. Como não tinha morrido ninguém? – pensavam as crianças. Tinha morrido um mundo, e, dentro dele, os olhos amorosos das crianças, ali deixados.
E começávamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De outros brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos, sem socorro, nós, brinquedos que somos, talvez, de anjos distantes!
(Cecília Meireles)
Podemos notar nesta crônica de Cecília Meireles a alternância entre a narração: “Ora, uma noite correu a notícia de que o bazar se incendiara”, a descrição: “O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas (…)”, e a reflexão: “Até que um dia também desaparecêssemos, sem socorro, nós, brinquedos que somos (…)”.