Camões épico – Os Lusíadas

Importância e significado de Os Lusíadas

É um poema épico chamado de Os lusíadas, foi publicado em 1572 em que o Rei D. Sebastião protegeu, seu assunto principal foi sua viajem de Vasco da Gama às Índias (1497 – 1498). Sendo o maior navegador, mais que um herói individual, mas um porta-voz e símbolo de toda nacionalidade portuguesa. Ultrapassou vários reinos como os da Ásia, África e América. Essas viagens eram muito perigosas, passavam por lugares que ninguém nunca tinha viajado, com costumes e povos diferentes; houve a exaltação do homem-herói; como estava na época antropocêntrica do Renascimento tinha o espírito heróico e conquistador.

Para escrever Os Lusíadas, Camões foi influenciado pelo clima intelectual; lia os poemas épicos da antiguidade e contou com sua experiência pessoal.
Havia uma ilha em que Vênus (uma deusa) recebe e orienta os navegantes após sua longa viagem, o nome dessa ilha é Ilha dos Amores, em que os heróis mitológicos se relacionam com as ninfas, Vasco da Gama se relaciona também com Tétis e com isso essa deusa entrega ao capitão os segredos da Máquina do Mundo, profetizando assim grandes feitos lusitanos.

Os Lusíadas está baseado em conquistas do homem português e renascentista, por esta causa são harmonizados em:

Ideais renascentistas, expansão do império, junto com a ideologia medieval, feudal e conservadora, representada na severa advertência do Velho do Restelo contra os perigos do expansionismo.

A mitologia pagã, com interferência de várias entidades mitológicas com o ideal cristão de cruzada, já que Camões atribui aos descobrimentos a ampliação do mundo católico.

O tom épico focalizado nos feitos dos navegadores, guerreiros e heróis, com o tom lírico, com a expressão comovida do amor trágico de Inês de Castro e de suas súplicas ou do temível Adamastor que no final é considerado um pobre amante rejeitado;

Objetividade que descreve a natureza em conhecimentos geográficos, literários e históricos, com sua subjetividade nas digressões que o poeta faz uma reflexão sobre a vida, sobre a natureza humana e sobre sua condição.

O ufanismo, orgulho nacionalista de um povo que se orgulha de ter vencido os heróis da Antiguidade.

O espírito clássico na apropriação de idéias dos modelos de Virgílio e Homero que usava uma sintaxe latina, com acentos maneiristas e antecipações barrocas nas tensões características do barroquismo na visão pessimista além da inclusão de aspectos dolorosos, horrorosos e cruéis.

A estrutura formal de Os Lusíadas

Os cantos: os poemas são divididos em 10 cantos, cada um deles possui aproximadamente 110 estrofes, o canto mais curto é o III, com 87 estrofes e o mais longo é o X, com 156 estrofes.

As estrofes: as estrofes do poema contém 1.102 estrofes em que cada uma delas contém regularmente 8 versos denominados oitavas, onde as rimas obedecem ao esquema ABABABCC que pode ser chamado de oitava-rima, oitava real ou oitava heróica.

Vejamos um exemplo:

1- Uns vão nas almadias carregadas; (A).
2- Um corta o mar a nado, diligente; (B).
3- Quem se afoga nas ondas encurvadas; (A).
4- Quem bebe o mar e o deita juntamente. (B).
5- Arrombam as miúdas bombardadas. (A).
6- Os pangaios sutis da bruta gente. (B).
7- Desta arte o Português enfim castiga. (C).
8- A vil malícia, pérfida, inimiga. (C).

Os versos: O poema tem 8.816 versos (1.102 x 8), decassílabos em que prevalece os decassílabos heróicos, que contém a 6º e a 10º sílaba mais forte, ou seja, a sílaba tônica. Existem também os decassílabos sáficos, que apresentam a 4º, a 8º e a 10º sílaba mais forte, ou seja, a sílaba tônica.

Vejamos agora a decomposição do verso, relacionado com o número de sílabas poéticas ou fonemas que o constitui:

As partes de Os Lusíadas

A epopéia possui cinco partes:

• Proposição (I, 1-3);
• Invocação (I, 4-5);
• Dedicatória (I, 6-18);
• Epílogo (X, 145 -156);
• Narração (I 19 a X, 144).

I. A Proposição

A proposição é uma síntese do poema, que ocupa as três primeiras estrofes do texto, vejamos: 

Textos

I

1- Já neste tempo o lúcido planeta,
2- Que as horas vai do dia distinguindo,
3- Chegava à desejada e lenta meta,
4- A luz celeste às gentes encobrindo,
5- E da casa marítima secreta
6- Lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo,
7- Quando as infidas gentes se chegaram
8- Às naus, que pouco havia que acoraram. 

                               II 

9- Dentre eles um, que traz encomendado.
10- O mortífero engano, assim dizia:
11- – “Capitão valoroso, que cortado
12- Tens de Netuno o Reino e salsa via:
13- O rei que manda esta ilha, alvoroçado.
14- Da vinda tua, tem tanta alegria,
15- Que não deseja mais que agasalhar-te,
16- Ver-te e do necessário reformar-te.

                            III 

17- “E por que está em extremo desejoso
18- De te ver, como coisa nomeada,
19- Te roga que, de nada receoso,
20- Entres a barra, tu com toda a armada;
21- E, porque do caminho trabalhoso.
22- Trarás a gente débil e cansada,
23- Diz que na terra podes reformá-la,
24 – Que a natureza obriga a desejá-la.

II – A invocação às Tágides

É o pedido de inspiração às musas, as Tágides, ninfas do rio Tejo, fazendo com que suas musas fossem nacionalizadas. Na tradição clássica, Calíope era a musa grega da poesia épica a quem Camões se refere também em outros momentos no poema. Porém na sua abertura, ele tem preferência pelas musas nacionais.

 Textos
                               IV 

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.              

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.

III – A dedicatória ao Rei D. Sebastião

D. Sebastião sempre foi visto pelos outros como alguém que pudesse fazer com que houvesse a independência de Portugal. D. Sebastião assumiu o trono aos 14 anos, no ano de 1568, e como a redação do poema assumiu mais de 12 anos e Camões até escreve sobre ele, e por isso seus conselheiros abusam. Camões além de escrever novas sobre D. Sebastião não deixou também de criticar o seu reinado e/ou as intrigas palacianas que ocorreram. 
Ex
.:
Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo caridade
Amam somente mandos e riqueza
Simulando justiça i integridades.
(Lus., IX,28)

Textos 
VI 

E vós, ó bem nascida segurança Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade,
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande.

       VII 

Vós, tenro e novo ramo florecente,
De hüa árvore, de Cristo mais amada
Que nenhüa nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera Si na cruz tomou);

   VIII 

Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando dece o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio

(…)

Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quase eterno;
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor supremo,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.

IV – A Narração 

Os Lusíadas está dividido em três partes de uma narração:

1. A viagem de Vasco da Gama às Índias;
2. História de Portugal;
3. Lutas e intervenções dos deuses do Olímpio. 

Por isso são considerados dois acontecimentos históricos e uma ação mitológica que são alternadas durante o poema. A viagem acidentada de um herói navegante e sua chegada ao Oriente onde cria um novo reino. Esse herói por alguns deuses é perseguido por alguns deuses e protegido e por outros, fazendo com que a história se passe por um plano humano e por um plano divino. A narrativa começa no decorrer da aventura do herói quando Vasco da Gama e os navegadores estão no Oceano Índico, na Costa Leste da África, que fica perto do canal de Moçambique.


Vasco da Gama, que chegou a Índia em 20 de maio de 1498.

A viagem de Vasco da Gama é contada do meio para o fim, ou seja, o inicio das navegações (a partida, a travessia do Equador etc.), são narrados pelo próprio capitão, para Rei de Melinde, durante as pausas da viagem. O que aconteceu durante a viagem com Vasco da Gama conta a história de Portugal, em uma ordem cronológica, desde Viriato até o Rei D. Manuel, englobando todos os reis e todas as batalhas que foram mais relevantes. 

Textos 

                         IXI 

Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Proteu são cortadas, 

                     XX

Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em consílio glorioso,
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu fermoso,
Vem pela Via Láctea juntamente,
Convocados, da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.
 

V – O Epílogo 

O epílogo é composto por lamentações e críticas do poeta, suas exortações ao rei D. Sebastião e aos vaticínios sobre as futuras glórias portuguesas. No inicio do poema havia um tom de euforia, mas o tom passou a ser de crítica aos acontecimentos que foram esquecidos, como os valores nacionais. Camões também escreve contra os que o repreenderam durante os seus últimos dias de vida.

Texto

1- Não mais, Musa, não mais a lira que tenho
2- Destemperada e a voz enlouquecida.
3- E não do canto, mas de ver que venho
4- Cantar a gente surda e endurecida.
5- O favor com que mais se acende o engenho
6- Não no dá a pátria, não, que está metida
7- No gosto da cobiça e na rudeza
8- Duma austera, apagada e vil tristeza.
(Lus., X, 145).
 

O Consílio dos Deuses no Olimpo
(Lus., I, 20-41)
Fragmento

O inicio da assembléia 
“Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em consílio glorioso,
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu fermoso,
Vem pela Via Láctea juntamente,
Convocados, da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante”.

Inês de Castro (Lus., III, 118-135) Fragmento

“Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha.”

O velho do Restelo (Lus., IV, 94-104) Fragmento

“Mas um velho daspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
(IV, 94).

– “A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
Douro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
(IV, 97).

O Gigante Adamastor (Lus., V, 37-60) – Fragmento


O aparecimento do Gigante

O aparecmento do Gigante e a descrição que dele faz Vasco da Gama: 

«Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
(V, 37)

«Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
“Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?”
(V, 38)

«Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
(V, 39)

A Ilha dos Amores (Lus., IX, 18 – X, 143) – Fragmentos.


As ninfas eram recompensa de Vênus aos navegadores.

“Nesta frescura tal desembarcaram
Já das naus os segundos argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas deusas, como incautas
Algüas doces cítaras tocavam,
Algüas harpas e sonoras flautas;
Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
Seguir os animais que não seguiam.
(IX, 64).

(…)

Duma os cabelos de ouro o vento leva
Correndo, e de outra as flaldas delicadas.
Acende-se o desejo, que se cava
Nas alvas carnes, súbito mostradas.

A publicação de Os Lusíadas deu-se pelo empenho de alguns admiradores de D. Manuel de Portugal, Dona Francisca de Aragão e aos dominicanos a quem não deviam desagradar das críticas feitas no poema aos jesuítas.

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