Juca Chaves
Por Redação
A Sátira é a caricatura dos erros de uma sociedade na qual Juca, há mais de três décadas é o seu artista maior. Carioca, nascido a 22 de outubro de 1938, compositor e cantor, poeta e escritor, é o autor e ator de sua própria arte. Com sua voz diferente, mas afinidade única, cantava aos dezoito anos, os defeitos do País, debochando, em trovas e canções ousadas demais para a época, políticos, povo e seus costumes. Assim como Gregório de Matos O boca do inferno – Este Cirano moderno, de nariz agressivo, que do violão fez sua espada, pagou e paga um alto pedágio para sua voz, segundo o imortal Jorge Amado, "a mais livre do Brasil". As portas das rádios e TVs se lhe fecharam, os jornais por medo silenciaram e em setembro de 62, com três anos de carreira, o menestrel, assim por todos chamado, exila-se em Lisboa, recebendo de um Jornal de oposição, a República, a alcunha de O Trovador Maldito.
Durante um espetáculo no Teatro Tivoli, para delírio de uma platéia de intelectuais, jovens e estudantes, muitos vindos especialmente de Coimbra só para ouvi-lo, uma piada sua ao Presidente da República, irritou as autoridades portuguesas, em especial o temível PIDE (Polícia Internacional de Defesa de Estado), órgão de repressão do Governo Salazarista, que também não concordou com sua arte liberal. Um novo exílio, desta vez para a Itália onde, por 5 anos virou personagem e fez sua fama.
De retorno à Pátria, em plena ditadura, enfrenta a censura, a imprensa e o temor dos poderosos. Independente, com filosofia própria e sem pertencer a grupos políticos ou, participar de manifestações ideológicas, um modismo dos anos 70, transporta suas músicas aos teatros. Inaugura então seu Circo SDRUWS, atuando sempre sozinho, como um mito isolado da MPB.
Satiriza a Nova República, seus novos hábitos e a velha corrupção. Desafia o poder da comunicação e ironiza a mídia, sendo naturalmente boicotado por algumas revistas, jornais e emissoras de TV e Rádio, que impõem-lhe a Lei do Silêncio. Por outro lado, cativa ainda mais seu público fiel, em programas alternativos. Propõe no Senado o Disco Numerado em defesa do autor, não recebe apoio das autoridades, tampouco da classe e é definitivamente vetado pelas gravadoras e FMs. Cria seu selo independente, a SDRUWS RECORDS – "A VEZ DO DONO" e não "A VOZ DO DONO" – ironizando o cachorrinho da RCA, "Além de burro, ele é surdo", disse Juca – o que lhe custou novo processo.
Em 1994 lança novas sátiras musicais e inaugura seu próprio Theatro Inteligente, o Jucabaré, em São Paulo, onde se apresentou por um ano e fechou as portas para se apresentar nos teatros em todo o país, para segundo ele, "Atender a inúmeros pedidos de credores". Seu lar fica em Itapoã, Bahia. "Lá não faço nada, faço curso para ministro…"
Trinta e nove anos de carreira ou "prostituição artística", como afirma Jurandyr Chaves, o satírico Juca e romântico Juquinha é, inegavelmente, o mais completo e querido one man show. Nisto leva a vantagem de ser man mesmo, ironiza. Compositor, poeta, sonetista das rimas ricas – segundo o Príncipe dos Poetas, Guilherme de Almeida – músico de formação erudita por sua vasta obra (mais de quatrocentas músicas, entre sátiras políticas e sociais e modinhas). É um mito à parte da cultura brasileira. Recebeu da imprensa portuguesa o título de "O Menestrel da Liberdade" e da brasileira, "O Menestrel do Brasil", na luta contra os patrulhamentos políticos e sociais. Segundo para Zélia Gattai: "É um anarquista". "Graças a Deus", conclui Juca.
Eis aí nosso Juquinha, o Grande Menestrel. Maldito para uns, irreverente para outros, mas para ele mesmo, um Vendedor de Sonhos. O sonho da liberdade, exclusividade daqueles que são e pensam livremente.