Dados pessoais
Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo nasceu no dia 23 de maio de 1863, no povoado de Juazeiro. Era filha de Antônio da Silva Araújo e Ana Josefa do Sacramento. Conforme descrição do escritor Manoel Diniz ela “era mestiça, cabelos quase crespos que usava cortados baixinho, estatura média, franzina, cabeça pequena, um pouco arredondada, olhos quase negros e suaves na expressão, lábios um pouco grossos, nariz pequeno, faces um pouco salientes, queixo pequeno, pescoço bem proporcionado”. Segundo Padre Azarias Sobreira, que a conheceu, ela “não despertava a atenção a não ser pela simplicidade de manias, boa educação doméstica, fácil inteligência das coisas, apesar de analfabeta”.
Filha de família pobre teve infância sofrida, trabalhava e rezava muito, era artesã. Fiava o algodão e fazia bonecas de panos para vender. A mandado do Padre Cícero, ensinava este ofício a algumas meninas de sua idade. Também chegou a prestar serviços numa olaria, contando tijolos.
Como perdeu os pais muito cedo, foi morar na casa de Padre Cícero. Passou a vestir o hábito de beata em 1885, com 22 anos, após ter participado de uma espécie de curso de beata, (na verdade, um retiro espiritual de oito dias) ministrado pelos Padres Cícero Romão Batista e Vicente Sóter de Alencar.
Padre Cícero tinha pela beata Maria de Araújo uma particular consideração, razão por que, quando ela morreu, lhe dedicou uma atenção toda especial. Mandou abrir-lhe uma sepultura na Capela do Socorro e providenciou-lhe um enterro digno de uma pessoa ilustre.
A beata Maria de Araújo faleceu no dia 17 de janeiro de 1914, quando estava em curso a chamada Sedição de Juazeiro.
No dia 22 de outubro de 1930 seu túmulo foi aberto clandestinamente por ordem do Bispo de Crato. O túmulo, construído no interior da Capela do Socorro, foi totalmente destruído e os restos mortais da beata foram sepultados em local ignorado.
Saúde
O estado de saúde de Maria de Araújo foi motivo de muita polêmica entre os historiadores. Em depoimento prestado aos padres que realizaram o Primeiro Inquérito sobre o milagre, ela afirmou que sofria de incômodos de estômago, mas só chegou a vomitar sangue uma única vez, por causa de uma queda que sofreu durante um dos ataques nervosos que tinha desde criança. Alguns biógrafos chegaram a dizer que ela era hemofílica, tuberculosa, epiléptica, desequilibrada, mas disso não existe nenhum documento. Ao contrário, o médico Marcos Madeira, que a examinou repetidas vezes, atestou oficialmente em documento lavrado e que faz parte do Inquérito, que não descobriu na Beata “a menor ferida, úlcera ou ferimento de natureza alguma na língua, gengivas, laringe e, enfim, em toda a cavidade bucal”.
O milagre
Certamente o fato mais importante e polêmico da vida de Maria de Araújo é o chamado milagre da hóstia. Este fato, que trouxe tantos transtornos à beata e também ao Padre Cícero, ocorreu pela primeira vez no dia 1º de março de 1889. E consistiu basicamente no seguinte: Ao receber a hóstia, numa comunhão oficiada pelo Padre Cícero, a beata Maria de Araújo foi incapaz de degluti-la, pois a sagrada partícula transformou-se em sangue vivo, conforme foi atestado depois pelos médicos convidados pelo Padre Cícero para examinar a beata e presenciar o fenômeno, que se repetiu dezenas de vezes durante cerca de dois anos.
Mas o fenômeno não era só isso. Em outras ocasiões a hóstia chegou também a se transformar numa porção carnosa em forma de coração. E no corpo da beata eram abertas chagas que depois de algum tempo iam desaparecendo misteriosamente, sem deixar nenhum vestígio. Ela também apresentava suores de sangue e entrava em êxtase. E no depoimento prestado à Primeira Comissão de Inquérito, designada pelo bispo Dom Joaquim José Vieira para investigar o fenômeno, ela disse que quando entrava em transe visitava o inferno e o purgatório, e falava com Jesus Cristo de quem ouvia e transmitia ensinamentos em Latim. Isto tudo deixou os Padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Ântero, membros da Primeira Comissão de Inquérito, maravilhados.
Até agora foram levantadas quatro hipóteses para tentar explicar o milagre de Juazeiro. A primeira, defendida elo Padre Cícero e outros colegas de batina e principalmente pelo Professor José Marrocos, atribui ao fato natureza divina, sendo, portanto, milagre.
A segunda, defendida oficialmente pela Igreja, diz que tudo não passou de “prodígios vãos e supersticiosos e implicam gravíssima e detestável irreverência e ímpio abuso à Santíssima Eucaristia”. A terceira, criada pelo Padre Antônio Gomes de Araújo, historiador caririense, classifica o fato na categoria de embuste, resultado de uma química feita à base de solução de fenolftaleína mais amido, idealizada pelo Professor José Marrocos e a conivência da Beata Maria de Araújo. E a quarta, mais recente, defendida pela parapsicóloga Maria do Carmo Pagan Forti, diz que “as crucificações e os estigmas miraculosos verificados em Maria de Araújo são resultados, certamente, da imaginação emotiva dela, da influência de seu psiquismo sobre o organismo”, e que a presença do sangue pode ser atribuída a um “caso de aporte”.
Neste novo enfoque, o sangue era mesmo real, sadio, mas da Beata, descartando-se, então, a hipótese do embuste.
Na verdade, hipótese semelhante já havia sido levantada à época da ocorrência do chamado milagre, pelo Dr. Júlio César da Fonseca Filho, que em carta endereçada ao Bispo Dom Joaquim José Vieira atestou que o fenômeno que se passava na beata não se tratava de impostura nem de simulação, mas de histerismo.
A beata na atualidade
De uns tempos para cá Maria de Araújo tem despertado a atenção de historiadores e pesquisadores. Sua vida já foi tema de vários trabalhos acadêmicos. Ultimamente ela não tem sido mais chamada de embusteira. Na visão da parapsicóloga Maria do Carmo Pagan Forti “ela não foi uma embusteira e não se pode reduzir a sua figura aos fenômenos acontecidos com ela, chamando-a de alienada, de alguém fora da realidade, de um símbolo de atraso cultural e ignorância religiosa. Ela foi mística no sentido nobre da palavra, como também foram São Francisco de Assis, Tereza D´Avila, João da Cruz, os grandes místicos europeus”.
BIBLIOGRAFIA
Araújo, Antonio Gomes de.(Pe.) (1956). Apostolado do embuste. Crato, Edições Itaytera.
Dantas, Renato (1982). As beatas do Juazeiro e do Cariri. Juazeiro do Norte, Edições ICVC.
Diniz, Manoel (1935). Mistérios do Joaseiro. Juazeiro, Tipografia do O Juazeiro.
Forti, Maria do Carmo Pagan (1991). Maria de araújo, a beata de Juazeiro. São Paulo, Paulinas.
Oliveira, Amália Xavier de (1981). O Padre Cícero que eu conheci. 3a. ed. Recife, Massangana.
Sobreira, Azarias (1969). O Patriarca de Juazeiro.
Walker, Daniel (1996). Maria de Araújo, a beata do milagre de Juazeiro. Juazeiro, Edições IPESC.