4. A prosa barroca

Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1667)

Era aluno de jesuítas e militar, que viveu em Madri e foi amigo de Quevedo e exilado no Brasil em 1655. Produziu variadas obras de prosa e verso. Escreveu a poesia lírica, a historiografia, o teatro, a polêmica, a prosa filosófica e moralizante e deixou mais de 20.000 cartas (era epistológrafo). 

carta de Guia aos casados 

É um trabalho escrito em forma de carta para “ajuda” conjugal. Que continha clareza e objetividade de uma obra que ensina. Sua obra analisa o casamento em que as mulheres que lessem chamariam de pensamento “machista”. 

Vejamos a carta

Uma das coisas que mais assegurar podem a futura felicidade de casados é a proporção do casamento. A desigualdade no sangue, nas idades, na fazenda, causa contradição; a contradição, discórdia. E eis daqui os trabalhos por onde vêm. Perde-se a paz, e a vida é inferno. 

Para satisfação dos pais convém muito a proporção do sangue, para o proveito dos filhos, a da fazenda, para o gosto dos casados, a das idades. Não porém que seja preciso uma conformidade, de dia a dia, entre o marido e mulher; mas que não seja excessiva a vantagem de um a outro. Deve ser esta vantagem, quando a haja, sempre a parte do marido em tudo à mulher superior. E quando em tudo sejam iguais, essa é a suma felicidade do casamento.” 

A vida doméstica para o autor é descrita como algo que tem de haver disciplina, rigor e severidade, ele defende o marido em suas “saídas” e não defende o ponto de vista da esposa. Mas no final da carta ele insinua que as mulheres têm um grande poder e que os homens temem a isso e mostra a necessidade que os homens têm de prevenir isso:

Vejamos

Hei de estranhar por força um dito daquele nosso tão nomeado e tanto para nomear bispo D. Afonso que dizia: “A mulher que mais sabe não passa de saber arrumar uma arca de roupa branca” (…) Sou muito diferente de opinião e creio certo de que há muitas (mulheres) de grande juízo (…). Por isto mesmo me parece que aquela sua agilidade no perceber e discorrer em que nos fazem vantagens é necessário temperá-la com grande cautela. 

(Carta de Guia aos Casados, cap. XXII). 

Matias Aires (1705-1763)

Escreveu Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1752), que tem 163 fragmentos subordinados ao tema geral da vaidade humana, vista em vários aspectos: vaidade como vício, a vaidade do medíocre, a vaidade e o amor-próprio entre outras.